
Diz-se que os grandes impérios não caem de um dia para o outro. Mas, por vezes, bastam os olhos de uma mulher, uma mente afiada e uma coragem feroz para abalar as estruturas mais sólidas da História. Cleópatra VII, a última rainha do Egipto, foi essa mulher.
Esquece, por uns momentos, a imagem de Cleópatra como sedutora envolta em luxo. Cleópatra foi muito mais do que o mito. Foi política, estratega, poliglota e líder. Falava várias línguas, incluindo o egípcio, algo raro entre os reis da sua dinastia, os Ptolemeus, que descendiam de gregos e raramente se misturavam com a cultura local. Cleópatra não só aprendeu a língua do seu povo, como também se posicionou como filha de Ísis, uma deusa-mãe egípcia, ganhando um lugar profundo no coração do Egipto.
Subiu ao trono aos 18 anos, ao lado do seu irmão, com quem alegadamente foi obrigada a casar por tradição dinástica. Mas rapidamente mostrou que não seria uma figura decorativa. Quando foi afastada do poder por disputas familiares, não desistiu: reuniu aliados, levantou um exército, e regressou para reclamar o trono. Foi nesse momento que o destino a cruzou com Júlio César, o poderoso general romano que viria a ser determinante no seu percurso.
A história entre Cleópatra e César tornou-se lendária, mas mais do que romance, foi uma aliança política audaciosa. Cleópatra sabia que, para proteger a independência do Egipto, teria de dialogar com Roma... e César via nela uma aliada estratégica no Oriente. Dessa relação nasceu um filho, Cesarião, que Cleópatra sonhou ver um dia como herdeiro não só do Egipto, mas também de Roma.
Após a morte de César, Cleópatra aliou-se a Marco António, outro dos homens fortes de Roma. Juntos tentaram formar um poder alternativo no Mediterrâneo. Dividiram territórios, criaram uma aliança político-afetiva e desafiaram abertamente Octávio (o futuro imperador Augusto), numa jogada que culminaria na célebre Batalha de Ácio.
A derrota foi inevitável. E quando perceberam que Roma não perdoaria, Cleópatra e Marco António escolheram a morte em vez da humilhação. Diz-se que Cleópatra se deixou morder por uma serpente, um gesto simbólico, ritual e profundamente egípcio. Com a sua morte, terminou também o Egipto faraónico. Roma assumiu o controlo total.
Mas o que sobreviveu, mais do que qualquer império, foi o mito de uma mulher que soube governar, amar, negociar, resistir e cair com dignidade.
Cleópatra não foi apenas a última rainha do Egipto. Foi a última a lutar até ao fim por um ideal de soberania e por uma visão própria do poder feminino. E, ao contrário de muitos homens que a tentaram apagar da história, ela continua viva na memória do mundo - como símbolo de inteligência, coragem e liberdade.
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