
Durante anos, habituámo-nos à ideia de que natureza e civilização vivem em mundos separados. Crescemos entre muros, cimento, janelas fechadas e ruas largas onde o verde, quando existe, parece quase decorativo. E, sem darmos conta, fomos esquecendo que também nós fazemos parte do mundo natural - que dependemos dele para respirar, comer, viver.
No livro A Cidade Viva: O Futuro do Humano é Vegetal, o cientista italiano Stefano Mancuso propõe uma visão profundamente transformadora: e se as cidades deixassem de ser um sistema fechado e passassem a funcionar como um organismo vivo, em cooperação com as plantas, com os ciclos naturais e com tudo aquilo que andámos a ignorar durante tempo demais?
Mancuso é uma das maiores referências mundiais no estudo da inteligência das plantas. Ao longo deste livro, mistura ciência, ecologia, urbanismo e filosofia para lançar um apelo claro: ou repensamos a forma como habitamos o planeta ou arriscamo-nos a um futuro cada vez mais instável.
Em poucas gerações, passámos de viver em equilíbrio com os ritmos da natureza para uma realidade completamente dependente de recursos externos, num modelo urbano que exige um consumo energético constante. Tudo funciona bem - até deixar de funcionar. E Stefano Mancuso não esconde a preocupação: a especialização extrema das cidades torna-nos vulneráveis num mundo que está em constante mudança.
Mas este não é um livro pessimista. Muito pelo contrário. O autor acredita que ainda vamos a tempo de corrigir o rumo, e que a resposta pode estar precisamente naquilo que temos negligenciado: as plantas.
A proposta que atravessa o livro é simples, mas poderosa: transformar as cidades em fitópolis - espaços onde árvores, jardins, hortas e vegetação em geral não são apenas elementos estéticos, mas parte integrante do funcionamento urbano. Árvores que arrefecem as ruas, plantas que filtram o ar, raízes que protegem os solos e absorvem a água das chuvas. Tudo isto existe, é possível e já está a ser feito em algumas cidades que servem de exemplo ao longo do livro.
Mais do que um ensaio científico, este é um manifesto com os pés bem assentes na terra - ou melhor, nas raízes. É um convite a olhar para as cidades como espaços de reconexão com a natureza e não como fortalezas contra ela. E, ao fazê-lo, a reencontrar também uma parte de nós que foi ficando adormecida.
A Cidade Viva não é apenas para quem se interessa por ecologia ou urbanismo. É para todos os que sentem que chegou o momento de mudar. Que a forma como temos vivido já não serve. Que é preciso voltar a aprender com aquilo que é mais antigo, silencioso e resiliente: o mundo vegetal.
Porque o futuro não se constrói apenas com tecnologia - constrói-se com raízes, folhas e a coragem de imaginar cidades onde possamos, finalmente, respirar em paz.
A Cidade Viva
de Stefano Mancuso
Edição/reimpressão: 11-2024
Editor: Pergaminho
Idioma: Português
Dimensões: 150 x 235 x 10 mm
Páginas: 160
Classificação Temática: Livros > Livros em Português > Ciências Exatas e Naturais > Biologia
Stefano Mancuso é uma daquelas mentes raras que nos fazem ver o mundo com outros olhos - ou, neste caso, com outras raízes. Considerado um dos maiores especialistas em Neurobiologia Vegetal, tem dedicado a sua vida a revelar algo profundamente revolucionário: as plantas sentem, comunicam, tomam decisões e são muito mais inteligentes do que imaginamos.
Professor na Universidade de Florença e diretor do Laboratório Internacional de Neurobiologia Vegetal, Mancuso é também cofundador da International Society for Plant Signaling and Behavior, uma organização que estuda como as plantas percebem o mundo e respondem ao que as rodeia. A sua investigação vai muito além da ciência clássica: ele propõe uma nova forma de olhar para o reino vegetal - não como algo passivo e decorativo, mas como um verdadeiro sistema cognitivo vivo.
Autor de vários best-sellers internacionais e de centenas de artigos académicos, Mancuso já foi reconhecido pela New Yorker como um dos “world changers” da década, e o jornal La Repubblica destacou-o como um dos 20 italianos com maior potencial para mudar o futuro da humanidade. E com razão: além da investigação pioneira, criou através da sua start-up universitária, um módulo de cultivo de plantas completamente autónomo em termos energéticos - um avanço que une tecnologia, sustentabilidade e o poder silencioso da natureza.
A presença de Mancuso nos media internacionais é constante, e as suas palestras inspiradoras esgotam salas por todo o mundo. Fala com paixão, com humor, mas sobretudo com uma lucidez desarmante sobre a urgência de reconectar o ser humano ao mundo vegetal - não apenas como uma questão de ecologia, mas como uma profunda transformação cultural e espiritual.
Escutar Mancuso é como abrir uma janela para uma nova visão do planeta: onde as plantas não são cenário, mas protagonistas; onde o futuro da humanidade depende, talvez mais do que nunca, da sabedoria silenciosa das árvores.
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