
Desde sempre, o ser humano descobriu que o som tem poder. Seja no compasso de um tambor, no sopro de uma flauta ou no murmúrio de um cântico, a música acompanha-nos como uma força invisível capaz de acalmar, elevar e até curar. No Antigo Egipto, esta sabedoria estava profundamente enraizada: para os egípcios, a música não era apenas arte, mas uma ponte entre o humano e o divino, um meio de harmonizar corpo, mente e espírito.
Música como linguagem sagrada
Para os sacerdotes egípcios, o som era mais do que vibração no ar, era energia criadora. Acreditava-se que o próprio universo tinha nascido através da vibração primordial. Assim, cada cântico entoado nos templos, cada instrumento tocado em rituais, era uma forma de alinhar-se com essa ordem cósmica.Os hinos dedicados aos deuses não serviam apenas para louvar, mas para restaurar a harmonia interior, afastar doenças e trazer clareza à mente. Muitas vezes, eram entoados em câmaras específicas dos templos, cuja arquitetura potenciava a ressonância, criando um efeito quase hipnótico nos ouvintes.
Instrumentos como canais de energia
A música no Egipto era rica em sonoridades. Cada instrumento tinha uma função simbólica e energética:- Sistrum: um chocalho sagrado associado à deusa Hathor. O seu som metálico era usado para afastar forças negativas e atrair alegria e fertilidade.
- Tambores e pandeiretas: usados em rituais coletivos, evocavam a batida do coração e o ritmo da vida, unindo os participantes numa mesma vibração.
- Flautas e harpas: traziam suavidade e introspeção, sendo associadas ao equilíbrio espiritual e à cura.
- Cânticos e mantras: muitas vezes repetidos em cadência, criavam estados alterados de consciência, facilitando a meditação e a ligação com o divino.
Estes sons não eram escolhidos ao acaso. A sua vibração era considerada capaz de reequilibrar o corpo e de sintonizar a alma com frequências mais elevadas.
Cura pela vibração
A ideia de que o som pode curar não é exclusiva do Antigo Egipto, mas lá foi levada a um grau de sofisticação notável. Havia práticas em que determinados cânticos eram dirigidos a doentes, como se a vibração da voz funcionasse como um remédio invisível. Também se acreditava que certos tons e ritmos podiam atuar diretamente sobre órgãos ou estados emocionais, restabelecendo a ordem natural.Hoje, esta visão encontra eco no chamado sound healing... terapias modernas que utilizam taças tibetanas, gongos, tambores ou mesmo frequências específicas para relaxar o sistema nervoso, aliviar stress e promover bem-estar. A ciência começa a comprovar que o som pode realmente influenciar o cérebro, as ondas cerebrais e até o corpo físico, através da vibração.
Entre o antigo e o moderno
O que podemos aprender com esta herança? Que a música não deve ser vista apenas como entretenimento, mas como uma ferramenta de transformação. O simples ato de entoar um mantra, ouvir um tambor ou deixar-se envolver por uma melodia já é, em si, uma forma de cura.Tal como os egípcios usavam o sistrum para elevar a energia ou os cânticos para purificar, também tu podes trazer a vibração consciente para o teu dia a dia. Seja através de uma playlist relaxante, de um momento de silêncio onde apenas a tua voz ecoa, ou da experiência profunda de um concerto meditativo, o som tem o poder de realinhar-te com a tua própria essência.
No fundo, o poder do som no Antigo Egipto lembra-nos que tudo vibra e que nós próprios somos feitos de frequência. Quando te abres ao som com consciência, estás a entrar em sintonia com a energia universal que sempre esteve presente.
Prática simples de cura pelo som
Se quiseres sentir na pele esta herança antiga, experimenta um pequeno ritual de som em casa. Não precisas de instrumentos complexos... apenas da tua voz e de alguns minutos de entrega.Encontra um espaço tranquilo
Senta-te confortavelmente, mantém a coluna ereta e fecha os olhos. Respira fundo três vezes, permitindo que o corpo relaxe.
Escolhe uma intenção
Pergunta a ti mesmo: o que quero harmonizar hoje? Pode ser serenidade, clareza, coragem ou apenas paz interior.
Emite um som simples
Inspira profundamente e, ao expirar, deixa sair um som longo e contínuo... pode ser o clássico “OM” ou apenas uma vogal aberta como “A” ou “O”. Não te preocupes com afinação: o importante é sentir a vibração no corpo.
Sente a ressonância
Repara em que parte do corpo o som vibra mais: garganta, peito, abdómen. Imagina que essa vibração dissolve tensões e preenche-te de energia vital.
Repete
Faz entre 5 a 10 repetições, mantendo a respiração calma. No final, fica em silêncio durante alguns instantes, sentindo o eco do som dentro de ti.
Este exercício simples pode trazer uma sensação de enraizamento e clareza... um pequeno vislumbre daquilo que os antigos sacerdotes egípcios já sabiam: o som é capaz de transformar.
Mais do que notas musicais, trata-se de encontrar no som uma chave: uma chave para curar, para expandir e para recordar que, dentro de ti, ressoa a mesma música que move as estrelas.










